O filme Oppenheimer, estrelado por Cillian Murphy, já arrecadou quase US$ 800 milhões nas bilheterias mundiais. Com essa produção, o diretor Christopher Nolan conquista sua maior bilheteria no Brasil.
No processo de filmagem aconteceram algumas especificidades interessantes, como: a produção mais longa no formato IMAX e a necessidade de desenvolvimento de metodologia para filmagem em preto e branco nesse formato, antes inexistente. Segundo Andrew Jackson, diretor de efeitos visuais, Nolan não queria usar nenhuma simulação em computação gráfica de uma explosão nuclear. Assim, eles usaram quatro tambores de 44 galões de combustível e, em seguida, alguns explosivos, que incendiaram o combustível e o lançaram no ar, obtendo detalhes bem próximos da explosão em chamas de um artefato nuclear.
A produção mostra a contribuição e dramas pessoais de J. Robert Oppenheimer, um físico teórico, diretor do Laboratório de Los Alamos, que chefiou a pesquisa e o desenvolvimento da bomba atômica, no chamado “Projeto Manhattan”, durante os eventos da Segunda Guerra Mundial.
Em um detalhe, que poderia passar despercebido no filme, Oppenheimer enche aos poucos uma tigela de vidro com bolinhas de gude, representando o urânio essencial para a bomba nuclear. Parte desse urânio veio do Congo, principalmente de uma mina em Katanga, onde os mineiros enfrentavam condições extremamente difíceis. Na época o principal interesse era o elemento Rádio, mais valorizado. O urânio era um subproduto sem interesse, até que os físicos descobriram seu potencial de energia.
Oppenheimer foi um dos físicos mais importantes de seu tempo. Foi um dos precursores da física quântica e seus artigos contribuíram fortemente para a evolução da ciência e continuam tendo impacto e forte influência. Atualmente, quando pensávamos que já estávamos distantes de uma nova guerra nuclear, essa ameaça surge novamente no conflito entre e Rússia e a Ucrânia.
Algumas das principais contribuições de Oppenheimer para a Física:
Projeto Manhattan e Bomba Atômica: A contribuição mais notável foi sua liderança no Projeto Manhattan, um esforço secreto para desenvolver a primeira bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial. Oppenheimer desempenhou um papel crucial na coordenação da pesquisa científica e da engenharia necessárias para criar a bomba. Ele também esteve envolvido na seleção do local de testes nucleares em Los Alamos e desempenhou um papel fundamental no design da bomba.
Após o sucesso do Projeto Manhattan, Oppenheimer foi nomeado diretor do Instituto de Estudos Avançados em Princeton, onde continuou a contribuir para a física teórica e aconselhou o governo dos Estados Unidos em assuntos científicos.
Teoria Quântica: Ele fez importantes avanços na teoria quântica, particularmente na área de mecânica quântica. Trabalhou em várias questões relacionadas à natureza das partículas subatômicas e suas interações, ajudando a estabelecer as bases teóricas para a compreensão do mundo quântico.
Teoria de Campos: Realizou contribuições para a teoria quântica de campos, que é uma estrutura teórica fundamental para descrever partículas elementares e suas interações. Seus trabalhos na década de 1930 ajudaram a estabelecer os fundamentos da teoria dos campos quânticos.
Astrofísica e Estrelas de Nêutrons: Também contribuiu para a astrofísica, especialmente no estudo das estrelas de nêutrons, que são objetos ultradensos resultantes de colapsos gravitacionais de estrelas massivas. Sua pesquisa teórica ajudou a elucidar as propriedades dessas estrelas e como elas podem se comportar.
Estudo sobre Buraco Negro
Dentro da Astrofísica, ele fez uma contribuição notável para o estudo teórico dos buracos negros. Sua contribuição está relacionada a um trabalho pioneiro que ele realizou em colaboração com seu estudante Hartland Snyder em setembro de 1939. Caso queira saber mais sobre o estudo, acesse aqui.
Nesse estudo, Oppenheimer e Snyder investigaram o colapso gravitacional de estrelas massivas e propuseram a existência dos chamados “colapsos gravitacionais permanentes”, que agora são conhecidos como buracos negros. Eles utilizaram as equações da relatividade geral de Einstein para descrever o processo de colapso de uma estrela sob sua própria gravidade após o esgotamento do combustível nuclear que a mantém em equilíbrio.
O trabalho deles demonstrou que, quando uma estrela massiva esgota seu combustível nuclear e não há forças suficientes para contrabalançar a gravidade, a matéria entra em colapso em um ponto singular de densidade infinita, criando uma região onde a gravidade é tão intensa que nem mesmo a luz pode escapar dela. Esse é o conceito fundamental de um buraco negro.
Embora o termo “buraco negro” tenha sido cunhado posteriormente por John Archibald Wheeler, o trabalho de Oppenheimer e Snyder é considerado um marco importante na teoria e na compreensão do que acontece quando a matéria colapsa sob sua própria gravidade extrema. Eles ajudaram a estabelecer as bases teóricas para a compreensão desses objetos fascinantes e misteriosos, que se tornaram uma área significativa de pesquisa na astrofísica moderna.
Física e História
Uma questão fortemente abordada pelo diretor Christopher Nolan refere-se a uma ação tomada pelo governo dos Estados Unidos em relação a J. Robert Oppenheimer.
Após a Segunda Guerra Mundial, durante a Guerra Fria, houve crescente preocupação com questões de segurança nacional e com a possibilidade de espionagem ou vazamento de informações confidenciais para outras nações. J. Robert Oppenheimer, devido à sua liderança no Projeto Manhattan e seu envolvimento com armas nucleares, foi submetido a investigações de segurança por parte do governo dos Estados Unidos.
Em 1954, após um processo de revisão de segurança, o governo decidiu revogar a autorização de segurança de Oppenheimer. Isso significa que ele perdeu sua autorização de acesso a informações classificadas e não pôde mais trabalhar em projetos classificados ou ter acesso a dados sensíveis do governo. A revogação de sua autorização de segurança foi amplamente considerada como uma resposta às preocupações sobre suas associações políticas passadas e seu ativismo político, que foram vistos pelo governo como potenciais riscos à segurança nacional.
Essa revogação também gerou debate e controvérsia, já que muitos colegas cientistas e outros indivíduos consideraram a decisão injusta e prejudicial ao avanço da ciência. Em 1963, após uma revisão posterior, a decisão foi revertida e sua autorização de segurança foi parcialmente restaurada. Embora sua carreira científica e vida pessoal já tivessem sido afetadas, seu legado perdura como um dos cientistas mais influentes do século XX.
Por: Professora Doutora Angela Cristina Cararo
Curso de Física na PUCPR
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