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Reflexões

Hans Jonas: a evolução tecnológica e suas consequências  

Olhar para o mundo é vislumbrar a extensão da nossa própria existência. Até por isso, quem nunca quis viajar para lugares paradisíacos e ter uma experiência inesquecível com a natureza? A questão, na verdade, deveria ser quem pode e não quem deseja, pois, a grande maioria dos seres humanos encontra sua paz e equilíbrio nas belezas naturais: praias, florestas, montanhas, morros, geleiras e tantos outros lugares magníficos.

O ser humano, apesar de, ao mesmo tempo gostar dessas experiências, infelizmente, cultiva paradoxalmente um grande afeto pela evolução tecnológica. Que mal teria nisso? Em princípio nenhum, visto que, a evolução sempre foi bem-vinda para a humanidade, fazendo com que evoluíssemos e facilitasse a nossa própria existência. Porém, nos últimos séculos vemos o quanto esse conceito de evolução foi exacerbado, de tal forma que a pretensa evolução começou a mostrar sua outra face, que no geral tem sido muito assustadora, devido ao que ela pode causar: destruição, esgotamento e extinção de espécies que nos levam a cenários quase apocalípticos. Esse é o alerta do filósofo alemão Hans Jonas (1903-1993) cujas obras são imprescindíveis para entendermos a gravidade das ameaças derivadas do crescimento tecnológico sem o acompanhamento ético. O tema aparece principalmente em sua obra “O Princípio Responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica”, de 1979 e em “Técnica, Medicina e Ética: sobre a prática do princípio responsabilidade”, de 1985.  Agora, mais do que nunca, a ética, segundo Hans Jonas, deve acompanhar a tecnologia e orientar os passos da civilização. O filósofo deixou um grande compromisso aos seus sucessores que devem levar adiante os esforços por compreender esse processo.

Quantas inquietações isso pode nos causar, não é mesmo? É por isso que a Cátedra Hans Jonas da PUCPR e O Centro Hans Jonas Brasil juntamente com o Grupo de Trabalho (GT) Hans Jonas, organizaram um evento com todas essas discussões em razão dos 30 anos de seu falecimento e dos 120 anos do aniversário natalício que se completam em 2023.

Nesse evento, aconteceu o lançamento de dois importantes livros, o primeiro deles intitulado “Ecos da Natureza”, que traduz um convite e uma preocupação: a natureza, em suas várias formas, grita por socorro e tal apelo só pode ser escutado pelo ser humano, cujos ouvidos parecem ainda indiferentes e despreparados para compreender suas mensagens. Eis porque o livro é tão relevante no contexto filosófico, acadêmico e socioambiental: ele translada entre o esforço e o vigor de uma escuta cuja urgência cresce na medida em que aumenta a lista dos seres sob risco de extinção, dado o alargamento dos poderes tecnológicos que levam à destruição da Terra, nosso espaço comum de habitação e de partilha existencial.

O segundo livro se chama “Uma tarefa comum” e propõe um diálogo entre as ideias de Hans Jonas e do Papa Francisco. Segundo a breve introdução do livro, ambos reconheceriam que têm uma tarefa comum e que ela envolve temas tão diversos como a ecologia integral, a justiça ambiental, a tecnologia e seus desafios éticos, a preocupação e a responsabilidade com o futuro, o papel da religião, das ciências, da teologia e da educação, a autenticidade e a vulnerabilidade da vida, os rumos do pensamento e da ação ecológica, os desafios políticos e a autogestão social, o humanismo fraco, a visão sobre os animais e as plantas, entre outros. Essa lista serve como orientação para que pensemos nesse diálogo que, embora possível, não aconteceu, mas que os quinze capítulos deste livro pretendem tornar possível.

São dois livros atuais que buscam responder e salientar as muitas questões éticas. Os livros são uma contribuição dos pesquisadores/as da obra de Jonas no Brasil, reunidos no GT Hans Jonas da ANPOF, no Centro Hans Jonas Brasil e na Cátedra Hans Jonas da PUCPR.

Por: Gabriel Vizentim

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