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Coffee Break

Minha religião afeta meu consumo?

A fé como um dado demográfico que afeta os padrões de consumo

imagem retirada do site oficial da série na Netflix

No dia 26 de setembro (2024), a Netflix lançou uma nova série romântica cujo tema central gerou discussões: religião. A série “Ninguém Quer” (Nobody Wants This) conta sobre o desenvolvimento do relacionamento entre Joanne (Kristen Bell), uma agnóstica que trabalha em um podcast sobre relacionamentos e sexo, e Noah (Adam Brody), um rabino em ascensão na sua comunidade. O romance dos personagens é retratado de forma turbulenta, com preconceitos e tentativas de entender o mundo por lentes diferentes.

Com 7,9 estrelas no Imdb e 94% de aceitação entre os críticos da Rotten Tomatoes, a série tem feito sucesso entre mulheres não judias por apresentar personagens complexos e apaixonantes, resgatando com sucesso as tão queridas rom-coms. Dado o contexto, é interessante refletir: a religião é um fator importante para o consumidor?

Sucesso com o público feminino

Quando se trata de pesquisas com o público, especialmente voltadas para produções audiovisuais, é importante ressaltar que as redes sociais são poderosas ferramentas. A #nobodywantsthis (e #nobodywantsthisnetflix) no Instagram apresenta uma variedade de publicações sobre como a série foi recebida, sendo a maioria ligada aos perfis com produção de conteúdo para o público feminino. No X (antigo Twitter), a série foi tão bem recebida que, apenas um dia após o lançamento, o BuzzFeed fez publicações com os melhores tweets sobre o Adam Brody em seu novo personagem.

É evidente que uma simples busca nas redes não é o suficiente para caracterizar um estudo de recepção nem retratar uma opinião única sobre a série. No entanto, essa busca pode trazer interessantes elementos na compreensão da aceitação da série, a qual tem sido alta o suficiente para renovação da segunda temporada após somente duas semanas de estreia.

Religião no consumo

Aqui no Brasil, religião é algo que não se discute, bem como afirma o ditado. Pelo menos, é algo que não discutia, no passado. Deixando toda a polêmica de religião e administração pública de lado, o foco aqui é o consumo. Em especial, como a fé, independente de qual seja, afeta o comportamento dos consumidores. No caso da série, a fé é um tema central na trama, que não passa despercebido pelos expectadores. Enquanto mulheres não judias receberam a série de forma positiva, comunidades de judeus nos Estados Unidos se pronunciaram com reviews negativas, afirmando que a série apresenta muitos estereótipos. Ou seja, a fé interferindo no sucesso de um produto entre diferentes públicos.

A fé é um dos elementos que pode ser considerado quando se pretende dialogar com variados públicos. Marcas de fraldas infantis, por exemplo, cuja base está nas noções de “família” e “cuidado afetivo”, apelam em vários níveis de discrição para a religião em suas propagandas. A questão aqui apresentada não é julgar essa estratégia, mas saber reconhecer quando ela pode ser válida ou útil para um negócio.

Vendo de forma objetiva, algumas características demográficas são levadas em consideração na criação de produtos e campanhas, como gênero, classe social, raça, faixa etária, entre outras. É apenas lógico que a religião, ainda mais no Brasil, seja também um fator abordado, visto que afeta padrões de consumo.

Fé e organizações

Para o professor Bortolo Valle, da Pós-Graduação em Filosofia, Psicanálise e Cultura, a fé tem como foco o símbolo, qualquer que seja ele. É possível, nessa lógica, ter fé para além da religião, pois ela pode ser percebida com uma condição humana. Portanto, sendo uma condição humana, afeta elementos organizacionais.

Para dar alguns exemplos, a fé está presente no cotidiano dos consumidores, e deve ser levada em conta nas produções externas de uma empresa (como as propagandas), e na vida dos colaboradores, devendo ser pensada nos âmbitos do gerenciamento de pessoas (como os feriados religiosos). A fé, estando vinculada à religião ou não, é um elemento não mensurável, mas que pode ser transformado em um dado. Novamente, o juízo de valor não entra em jogo. Reconhecer que a religião (ou a ausência dela) é um fator relevante no dia dos brasileiros é também identificar uma variável que pode afetar o seu negócio.

Essa discussão foi tema do sétimo episódio da segunda temporada do Coffee Break, o podcast da PUCPR. Nele, os participantes apresentam a fé e a religião como noções importantes para a humanidade, sendo, por consequência, um fator importante no âmbito empresarial. Um exemplo: a ansiedade climática, sentida fortemente pelas novas gerações, possui ligação com a fé; empresas não alinhadas com estratégicas de desenvolvimento sustentável, dessa forma, são indiretamente afetadas pela religiosidade e a espiritualidade dos consumidores – já que ninguém quer o fim do mundo.

Resumindo, entender sobre fé pode ser um marco na trajetória do seu negócio, por isso não deixe de considerá-la como um fator sociocultural que afeta seus públicos. Caso você não saiba por onde começar a entender esse complexo debate, confira o episódio abaixo:

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