Já parou para pensar em como a fé se manifesta na sua vida? Muito além de religiões, ela envolve principalmente a espiritualidade, ou seja, buscar significado e propósito em alguma coisa – seja em seres divinos, em outras pessoas, na natureza ou no seu próprio “eu”. Trata-se de algo inerente ao ser humano, que se expressa até nas atitudes e pensamentos mais simples. Quando nos deitamos à noite para dormir, por exemplo, a mera crença de que acordaremos no dia seguinte já é um ato de fé.
Nesse mundo tão incerto em que vivemos, a espiritualidade se transforma em um exercício diário para quem escolhe praticá-la. Mas, hoje em dia, como a fé se relaciona com a ciência e a saúde? Sabemos que essas coisas são tratadas de forma antagônica há séculos, como se não pudessem coexistir. Contudo, será que são conceitos tão excludentes assim? Ou eles podem ser complementares? Entenda a seguir.
Fé e saúde
A importância da espiritualidade para a medicina já é reconhecida por diversos pesquisadores e especialistas. De acordo com Thiengo[1] et al (2019), ela ajuda a trazer significado para a experiência de adoecimento. Muitas vezes, é o apoio que os pacientes encontram para enfrentar os sintomas, o estresse, a ansiedade e tudo que envolve uma doença.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) também aborda esse tema, destacando a relevância da fé para a saúde. No documento de Atualização da Diretriz de Prevenção Cardiovascular, a entidade aponta que a espiritualidade influencia de forma favorável a capacidade de enfrentamento a doenças – principalmente aquelas que são graves, crônico-degenerativas ou terminais.
Isso acontece porque a fé pode trazer conforto, esperança, equilíbrio e redução do estresse, atuando como um apoio nos momentos difíceis. A SBC também destaca que os próprios profissionais de saúde podem incluir a espiritualidade no tratamento, auxiliando o paciente a aceitar a doença e enfrentá-la usando seus recursos espirituais.
Espiritualidade e emoções
Quando se trata da prevenção de grande parte das doenças, não há dúvidas de que cuidar do corpo é fundamental – o que inclui, entre outras coisas, manter uma alimentação saudável, praticar atividades físicas e ter uma boa qualidade de sono. Mas a fé também pode servir como uma ferramenta complementar de prevenção, por meio de atividades como oração e meditação. Estudos apontam, por exemplo, que altos índices de espiritualidade estão associados a um consumo menor de álcool.
A fé também pode contribuir para o aumento de sentimentos positivos e redução das emoções negativas. Quando se tem a crença de que há algo ou algum ser divino controlando sua vida, muitas pessoas tendem a lidar melhor com o sofrimento. Elas têm a certeza de que não estão sozinhas e de que há um apoio maior vindo de algum lugar.
Fé e as novas gerações
Ao longo dos anos, a maneira de entender e exercer a fé passou por diversas transformações. Hoje, ela se relaciona muito com a tecnologia: é possível, por exemplo, acompanhar cultos, missas, retiros e outros eventos e encontros religiosos totalmente online. Nesse contexto, muitos jovens conseguem se conectar melhor com a espiritualidade e se unir a outras pessoas que, mesmo distantes, vivenciam coisas parecidas.
Esse foi o tema abordado no sétimo episódio da nova temporada do Coffee Break, podcast de atualidades e comportamento da PUCPR. O professor Bortolo Valle, da Pós-Graduação em Filosofia, Psicanálise e Cultura, destacou como as grandes religiões precisam se modernizar para acompanhar essas novas gerações. Ele também reforçou que a tecnologia é importante, mas não pode substituir o contato humano no contexto da fé.
No mesmo episódio, Eva Barbosa, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Teologia da PUCPR, ressaltou que a fé é algo essencialmente humano e que nos une nesse mundo incerto e desafiador.
Assista ao vídeo e confira esse importante bate-papo:
Acesse outros conteúdos do podcast Coffee Break da PUCPR:
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[1] Thiengo PCS, Gomes AMT, Mercês MC, Couto PLS, França LCM, Silva AB. Espiritualidade e religiosidade no cuidado em saúde: revisão integrativa. Cogitare enferm. [Internet]. 2019 [acesso em 28 nov. 2024]; 24. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/58692/37789