Frequentemente está em pauta a discussão sobre a empatia. Sem me deter na profundidade desse termo, partirei da premissa de que assumir uma postura empática em todas as nossas relações é sempre urgente. Das diferentes possibilidades de abordagem desse tema, quero falar do lugar de psicólogo educacional, conduzindo uma breve reflexão sobre a importância da educação no processo de formação humana e desenvolvimento da empatia.
Gosto de voltar às origens das palavras para produzir reflexões. Voltemos então à palavra “Educação”, que vem de “Educar”, em latim “educare“, termo derivado de “ex“, que significa “fora” ou “exterior”, e “ducere“, o mesmo que “guiar”, “instruir”, “conduzir”. Nesse entendimento, educar assume o significado de conduzir a pessoa para fora de si mesma em direção à realidade externa e, consequentemente, ao(s) outro(s), caracterizando-se como um processo de desenvolvimento de relações e de práticas sociais.
A partir desse sentido, o ato de educar torna-se uma experiência profundamente humana que nos prepara e nos coloca em contato com diferentes vivências sociais que podem nos conduzir ao diálogo, à compreensão dos pontos de vista alheios, à apropriação de diferentes valores, à capacidade crítica produzida no encontro com o(s) outro(s), que amplia(m) a nossa percepção e a compreensão de mundo.
Desse modo, todo processo educacional deve almejar a formação de um ser humano capaz de aprender, empaticamente, a conviver com o outro. Ser empático não significa pensar e sentir igual ao outro, mas se aproximar de sua realidade e permitir que o outro se aproxime da sua, postura que exige um processo educativo que o leve a sair de si mesmo e ir ao encontro do outro, que é sempre, e às vezes radicalmente, diferente dele.
O pensador Bakhtin[1] afirma que “somente em correlação com quem se ama é possível a plenitude da diversidade”. Apoiado nesse autor, todo movimento de empatia deve vir acompanhado de uma “atenção amorosamente interessada” pelo(s) outro(s), amor aqui entendido no sentido universal e humanitário, direcionado para todas as pessoas e, principalmente, para aquelas que sofrem pelas injustiças sociais deste mundo tão desigual.
Não podemos ser indiferentes aos sentimentos alheios, porque somente movidos por aquilo que nos une enquanto seres humanos poderemos, empaticamente, lutar contra aquilo que produz sofrimento em cada um de nós e na humanidade como um todo. Os processos educativos, sejam nas instituições educativas formais, no contexto familiar ou em outros espaços do qual pertencemos, devem nos levar a uma cultura mais empática, humanitária, justa e solidária, voltada para o entendimento e valorização da diversidade como parte da vida humana.
A partir da reflexão aqui realizada, o quanto você, leitor, está disposto a educar e ser educado, ou seja, sair de si e caminhar empaticamente em direção ao(s) outro(s)?
Wallisten Passos Garcia é doutor em Educação (UFPR) Mestre em Psicologia (UFPR), Psicólogo (UFPR), professor do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e coordenador da pós-graduação em Psicologia Escolar e Educacional da PUCPR.
Este artigo foi publicado originalmente na Revista Humanitas – 178.
Psicologia Escolar e Educacional
Considerar as diferenças culturais, econômicas, étnicas, raciais e de gênero no processo de educar é fundamental no contexto de formação humana e desenvolvimento da empatia. Esse tema é aprofundado na Pós-Graduação em Psicologia Escolar e Educacional da PUCPR. Voltado para psicólogos, o curso qualifica os profissionais para atuar nos âmbitos da educação formal e não formal.
A especialização traz uma compreensão abrangente, crítica e ética da atuação do psicólogo nos diferentes níveis, etapas e modalidades educacionais. Além disso, capacita o profissional para trabalhar de forma eficaz em diversos contextos, promovendo a inclusão de minorias, a parceria com educadores, o apoio às famílias e a reflexão crítica sobre questões sociais relevantes.
Que tal se especializar na área educacional e impulsionar a evolução da sua carreira?
[1] Bakhtin, M.M. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos: Pedro & João, 2017.