Alguma vez você já sentiu como se um dia da sua vida tivesse “voado”, num piscar de olhos? Ou aquela sensação geral de que o tempo está passando rápido demais, com dias cada vez mais curtos? Isso é mais comum do que se imagina. Não há nenhuma evidência científica sobre a aceleração do tempo: ele continua passando normalmente e da mesma forma para todas as pessoas. Mas a percepção que temos em relação a isso vem mudando nos últimos anos.
Fatores importantes que contribuem para esse processo são as nossas emoções e até mesmo transtornos psicológicos como ansiedade. Entenda mais a seguir.
Como funciona a percepção de tempo?
A forma como percebemos o passar do tempo varia muito de acordo com o momento que estamos vivendo e as circunstâncias que nos cercam. Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, o isolamento social levou muitas pessoas a sentirem que o tempo estava se “arrastando”. Em casa, sem contato com outras pessoas fora do círculo familiar ou de trabalho, havia uma sensação de que as horas do relógio demoravam – mais do que o normal – a passar. No dia a dia, quando realizamos atividades que consideramos entediantes ou difíceis, temos a mesma percepção.
Por outro lado, na correria rotineira, é mais comum a sensação de aceleração. Falta – ou, pelo menos, parece faltar – tempo para todas as pendências do dia. Estamos acostumados a ser multitarefas e, quando não damos conta de tudo que está planejado, sentimos culpa, estresse e até pânico.
Qual é a relação com a ansiedade?
A tecnologia vem revolucionando a percepção de tempo das pessoas em todo o mundo. No meio digital, tudo é instantâneo, incluindo notícias, mensagens, e-mails e reuniões. Por isso, quando alguém demora a responder, por exemplo, tendemos a ficar frustrados e até mesmo desesperados. Com o celular ou computador sempre por perto, queremos tudo com pressa e, quando isso não acontece, o sentimento é negativo.
Com essa percepção acelerada do tempo, também utilizamos mecanismos para “fazer” com que ele passe ainda mais rápido. Muitas pessoas usam, por exemplo, a ferramenta que permite aumentar a velocidade da reprodução de áudios no whatsapp. Isso nem sempre acontece por falta de tempo para ouvir o áudio com calma: muitas vezes, é porque não temos paciência e não conseguimos manter o foco naquilo por mais do que alguns minutos.
Redes sociais como Instagram ou Tiktok também fornecem mecanismos que prendem a nossa atenção e nos trazem uma sensação constante de “tarefa inacabada”. Quantas vezes você já começou a ver vídeos ou stories, um atrás do outro, e ficou ansioso com aquela rolagem “infinita”? Além disso, muitas vezes, começamos a consumir esses conteúdos e, quando nos damos conta, já se passaram vários minutos ou até horas.
Viver nesse ritmo tão veloz faz com que muitas pessoas fiquem cada vez mais ansiosas. Sempre conectadas e “aceleradas”, elas dão pouco tempo de descanso para a mente e têm dificuldade para se “desligar” da rotina multitarefas. Por outro lado, pesquisas já apontam que as nossas emoções afetam a nossa sensação da passagem de tempo. A percepção de que o tempo está passando devagar, por exemplo, está ligada ao isolamento, enquanto a percepção de um tempo muito rápido está associada ao estresse.
Existe solução?
Lidar melhor com esse mundo tão acelerado não é uma tarefa fácil, mas algumas dicas podem ajudar no processo. Em primeiro lugar, é importante ser menos autocrítico e entender que não é necessário – nem possível – ser perfeito. Embora o cenário atual exija por vezes que sejamos multitarefas, saber respeitar seus limites individuais é fundamental para manter a saúde mental.
Isso inclui saber dizer não nos momentos em que você não quer ou não pode realizar determinada atividade. A negação é algo desafiador, especialmente quando nos dirigimos a pessoas que têm uma expectativa grande sobre nós, mas é necessária em um contexto de empatia com o próprio “eu”.
Encontrar momentos de desaceleração também faz a diferença. Isso envolve destinar horas do dia ou da semana para o lazer, o convívio com a família e amigos ou até mesmo a solitude – ou seja, a conexão consigo mesmo.
No oitavo episódio do Coffee Break, podcast de atualidades e comportamento da PUCPR, especialistas dão outras dicas valiosas para entender e lidar melhor com a percepção de tempo. Confira o bate-papo com Naim Akel, professor do curso de Psicologia, e Celiane Costa, professora da Pós-Graduação em História Contemporânea e Relações Internacionais: