Considerado um problema grave pelas autoridades sanitárias, a resistência aos antibióticos é uma das principais ameaças à saúde pública global, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O aumento das mortes causadas por bactérias multirresistentes, as chamadas “superbactérias”, acende um alerta fundamental: a conscientização sobre o uso correto desses medicamentos.

 Atualmente, já existem diversas doenças com poucas opções de tratamento com antibióticos, especialmente infecções hospitalares. “Quando tomamos esses remédios, as bactérias sensíveis são eliminadas, mas as resistentes permanecem. Se a quantidade for pequena, nosso sistema imune dá conta de eliminar. Mas, se não tomarmos a dose correta ou não seguirmos todo o tratamento prescrito, aumenta a chance de se criarem bactérias resistentes e persistentes”, explica o professor Humberto Madeira, do curso de Biotecnologia da Escola de Medicina e Ciências da Vida da PUCPR.

Foi para levar essa conscientização aos estudantes da saúde – e à população em geral – que o professor idealizou o projeto “Vencendo a Resistência”. Ele destaca que muitos desses estudantes serão médicos, dentistas e farmacêuticos, que farão a prescrição ou dispensação dos medicamentos. Por isso, é necessário conhecer o problema a fundo e entender como combatê-lo.

Doenças virais e antibióticos: essa mistura dá certo?

Alguma vez você já usou antibiótico no tratamento de problemas virais, como gripe ou Covid-19? Esse é um grande mito sobre os medicamentos. Na realidade, como o próprio nome sugere, as viroses são doenças causadas por vírus, agentes infecciosos compostos por material genético e uma capa proteica. Por sua estrutura simples, eles são parasitas obrigatórios, dependendo de uma célula hospedeira para se reproduzir.

Já os antibióticos eliminam ou diminuem a multiplicação de bactérias, através de mecanismos como a inibição da produção da parede celular, da síntese de proteínas e da replicação de ácidos nucleicos. Por isso, não podem ser usados para combater viroses. Além disso, tomar antimicrobianos sem necessidade contribui para o surgimento de bactérias resistentes na microbiota natural e ainda elimina bactérias benéficas, que protegem o corpo das infecciosas.  

Quais as causas da resistência bacteriana?

A resistência é transmitida a partir do contato de bactérias não-resistentes com as resistentes. Confira alguns fatores contribuem para isso:

1. Uso indiscriminado de antibióticos

2. Bactérias resistentes passando de pessoas infectadas para pessoas sadias, seja em hospitais ou na comunidade

3. Bactérias resistentes passando de animais para pessoas e vice-versa

4. Bactérias resistentes de origem humana e animal contaminando o ambiente (água, solo e plantas), sobretudo pelas fezes

5. Descarte incorreto de antibióticos no meio ambiente, promovendo a seleção de bactérias resistentes.

6. Bactérias do ambiente retornando aos seres humanos e animais pela água e alimentos.

Essa transmissão pode ocorrer em diferentes ambientes que se comunicam. Por isso, esse problema é considerado de “Saúde Única”, ou seja, precisa ser atacado em três frentes ao mesmo tempo: saúde humana, saúde animal e saúde do meio ambiente.

Como fazer o uso correto dos antibióticos e evitar a resistência?

Atitudes conscientes fazem a diferença para combater as superbactérias. Entenda as principais ações de prevenção:

• ● Manter bons hábitos de higiene, como lavar as mãos com frequência e cozinhar os alimentos corretamente. Menos bactérias espalhando-se pelo corpo geram menos infecções e, portanto, evitam o uso de antibióticos
• ● Seguir as orientações do seu médico ou dentista em relação ao tratamento e não se automedicar. Se você é estudante ou profissional da saúde, engaje-se nessa causa e eduque as pessoas ao seu redor
• ● Manter a vacinação em dia: doenças como meningite, difteria, tétano, coqueluche (pertussis) e tuberculose podem ser prevenidas com vacinas como a DTP, a pentavalente e a BCG. Elas fazem parte do Programa Nacional de Imunizações e são oferecidas gratuitamente pelo SUS. Pessoas vacinadas evitam doenças e, assim, a necessidade de utilizar antibióticos para tratá-las.

Como descartar os antibióticos corretamente?

Se você costuma guardar as sobras de medicamentos, saiba que esse hábito não é recomendado. Ele aumenta o risco do uso sem prescrição e da automedicação, promovendo a seleção e proliferação de bactérias resistentes e dificultando o tratamento de infecções.

Por isso, o ideal é descartar os remédios, mas não de qualquer maneira. Antibióticos descartados de forma incorreta, como no esgoto, ralo ou lixo, podem contaminar águas e solos, afetando ecossistemas aquáticos e terrestres e alterando a biodiversidade e o equilíbrio ecológico. Se você tem cartelas ou comprimidos que não foram utilizados, devolva-os à farmácia ou localize outros pontos seguros de coleta credenciados pela ANVISA.